A Verdade por detrás da Realidade

O Mito da Menstruação


Irrompe com violência pela porta do seu palácio afora e, sentindo a doce suavidade do delicado ar primaveril do mediterrâneo, grita a dor da sua alma num grito inaudível. Lá dentro, no seu leito, jazia o seu marido em cima de sua criada numa posição outrora lívida de prazer sexual dionisíaco mas agora assexuada.


Efigénia era casada com Alcibíades, rei da ilha de Salamina. Era a primavera do ano de 1930 a.C. O amor de Efigénia por Alcibíades ultrapassava o limite do amor sentido por um humano. De tal maneira incomensurável era o seu amor, que a própria Cípris não conseguia compreender a proveniência desta quantidade de energia total, pura e sincera que nem ela, a deusa do amor, alguma vez pensara existir. A perplexidade assolou o âmago de Cípris. Não podia permitir que uma humana tornasse obsoleto o sentimento que ela criara. A deusa pede a Dióniso, o deus dos prazeres da vida, que enfeitice a criada de Efigénia com um ardente desejo carnal por Alcibíades. Sem escolha possível, a criada enfeitiçada seduz Alcibíades que não resiste à sedução – uma fraqueza que é inerente aos homens.


Uma tarde Efigénia regressava de Atenas após uma visita ao templo de Athena Niké. Fora oferecer sacrifícios à deusa em agradecimento à protecção de seu marido durante a guerra. Já avistava o palácio. Caminhava suavemente sobre as pedras mornas do caminho e apanhava algumas flores vermelhas aqui e acolá para decorar o seu leito numa noite que ela seria devota anfitriã de seu marido que acabava de retornar da guerra. Ouvia lá de baixo o som das ondas do mar a deitarem-se sobre as rochas. Não via o momento de estar nos braços de Alcibíades. Entra no palácio e vai directamente para a sua câmara.


Petrificada. Efigénia estava de pé. Foram dois segundos de vazio psicológico, dois segundos de uma profunda imersão eterna em si própria. Os dois segundos foram mais longos do que toda a sua vida e o nada foi o sentimento absoluto desta pequena eternidade, o nada que destruiu completamente qualquer capacidade racional.


Morte. Assassínio. Dor. Sangue. Lágrimas.


Irrompe com violência pela porta do seu palácio afora e, sentindo a doce suavidade do delicado ar primaveril do mediterrâneo, grita a dor de sua alma num grito inaudível. Olha para as suas mãos: sangue… Muito sangue e um punhal. Cai de joelhos na terra áspera, o seu olhar permanece erguido e inerte, preso no azul do céu. Suspende o punhal diante de si e, cortando o ar com vigor, enterra –o em seu ventre. Não sentiu a dor, pois a dor que pulsava na sua alma era maior. Ainda com o olhar no céu, eis que surge Cípris deslumbrante num cavalo branco:

“Maldita sejas tu, mulher entre as mulheres. Foste capaz de atingir aquilo que nem eu julgava possível. Maldita sejas tu por amar demasiado. Este sangue que deitas agora do teu ventre, a partir de agora será para todo o sempre. Todas as tuas semelhantes de todas as gerações vindouras até que a tua raça desapareça da face da terra, sentirá a dor e derramará o sangue como prova de que nada nem ninguém deve afrontar Cípris. Maldita sejas.”

Efigénia sucumbe. No momento em que o seu delicado rosto tocou a terra áspera, todas as mulheres da Terra sentiram uma dor. Todas as mulheres derramaram sangue. A partir de então isto repetiu-se periodicamente em todas elas durante toda a sua vida, nas gerações vindouras idem, como uma marca do ódio de Cípris em todas as mulheres, para toda a eternidade.