Sei Parte di Me


Estás a ver aqueles textos escritos no comboio com os pés em cima do banco da frente?
Não, não é um desses textos que estou a escrever.

Tenho os pés bem assentes no chão.
Estou a ouvir “Sei Parte di Me” e não estou decididamente dentro de um comboio, mesmo que a minha cadeira tenha rodinhas.

Se bem que na verdade me apetecia estar num comboio…
Sozinho…
Para poder escrever-te calmamente como estou a fazer agora.

No entanto apetecia-me ao mesmo tempo estar a ouvir “Sei Parte di Me” e estar com os pés em cima do banco da frente.

Apetecia-me estar sozinho num comboio que corresse para bem longe daqui, que parasse em vários sítios para nunca entrar ninguém, e no fim, mesmo na ultima paragem, queria que entrasses tu no exacto momento em que eu fosse a sair.

Tu não me ias ver.

Eu ia-te ver à última da hora… Mesmo quando as portas já estivessem a fechar…

E aí…
Eu só ia ter tempo para uma coisa.



Amo-te


P.S.: A carta está presa entre as duas portas, quando leres por favor volta.

Mentiu


Vou acordando lentamente deste breve mas pesado sono.
Pouca a pouco vou-me apercebendo de que provavelmente seria melhor que nunca tivesse acordado…
Cheguei mesmo a pensar que dum sonho se tratasse pois tudo aquilo me parecia demasiado surreal.

Todo o ambiente daquele vulgar comboio se havia mantido, apenas a aparência dos demais transeuntes se tinha alterado.
Duma forma estranha todos eles pareciam agora árvores… mas falavam e vestiam como se normais fossem.

Segui sentado no meu lugar sem demonstrar grande espanto, coisa que de facto se mostrou difícil, porque, na verdade, todos pareciam olhar para mim como se o estranho fosse eu no meio de todo aquele mato falante.
Respeitando as regras da boa educação lá consegui sair dali, com uma certa dificuldade devido às mais variadas ramificações que todos aqueles corpos de madeira tinham.

Saí…

Não vi nada… nem ninguém…
Tinha sido o único a sair naquela paragem…

Depressa constatei que tudo estava tão semelhante ao habitual… Excepto porém, o nome da paragem e consequentemente o nome da terra.

Olhei em volta para ter a certeza de que não me tinha enganado na paragem.
Depressa vi que o local era de facto o mesmo…

Aos poucos, fui-me dando conta duma mudança radical.
O vão de escadas tinha sido convertido num poço para onde vários anões de gesso saltavam alegremente sempre com aquela cara sinistra.

Passado pouquíssimo tempo comecei a sentir que aquele poço sempre lá havia estado e que era completamente normal existirem anões de gesso a saltar para dentro dele!
Saltei também e senti-me a cair no vazio…
Sempre a cair…

Cair…

Aos poucos…
Sempre aos poucos…
Comecei a sentir a perda da materialidade do corpo.

Mas, sempre a cair…
Sempre…

A queda tornou-se rotina… um hábito…
Como não ter corpo se tornou também um hábito…

De repente sinto um golpe forte sem dor…
Golpe no que me faz escrever…
Golpe no que me faz pensar…
Golpe na mente…

Na Mente…
mente…



Mente!

A Mente mente…
e…

Mentiu!

Tratado Anti – Floribella




Abaixo a estupidez!! É a frase que gostaria que fosse gravada nas nossas mentes. E porquê? Porque meio mundo anda a ficar (mais) estúpido ao ver um certo programa que nos passa atestado de estupidez com uma nota de vinte! O que me repugna ainda mais é sermos complacentes em deixar que as nossas crianças vejam este tipo de...de... de lixo .
Eu, já há tempo, que apelo ao mundo que não se deixe levar por este mundo floribelliano* , alegando que não é saudável. Já fui, inclusive, difusor da opinião de que a telenovela Floribella era um plano maléfico de Espanha, para conquistar Portugal começando pelos mais novos, enfraquecendo-lhes os neurónios, aumentando-lhes o Q.E.** e diminuindo-lhes o Q.I.***! Portugal, enquanto deixar que o crescimento dos seus futuros cidadãos, as crianças, seja influenciado por este tipo de coisas que os faz passar por mentecaptos e não como seres humanos com massa cinzenta isto não vai andar para a frente ou como diz o ancião do Povo :
Isto é andar para trás e para trás “mija” a burra!!

Portanto eu faço um apelo : Abaixo a estupidez!! E se por acaso se tem sentido atraído/a a ligar a televisão no canal tal para ver a telenovela Que-Nós-Sabemos, não corra a cortar os pulsos, ainda que seja apelativo, contacte-nos, que teremos muito gosto em salvar este mundo da estupidez.


*mundo floribelliano : tudo o que diz respeito à Floribella e tudo o que é, pirosamente, retrógrado.

**Q.E.:Quoficiente Emocional

***Q.I.:Quoficiente de Inteligência