Carta aberta ao senhor Richard Gere

Numa das minhas cibernéticas leituras das críticas aos filmes em exibição, encontrei esta pérola. Nunca na minha vida encontrei alguém ou palavras que expressassem tão bem esta repulsa que sinto a este "actor" e aos filmes de terceira categoria que ele protagoniza(comédias românticas que temos de aturar aos domingos à tarde ou quando levamos a namorada ao cinema).

Esta carta lembrou-me o tipo de humor crú de um manifesto anti-dantas. "Morra Gere, morra PIM!" eheh!

Que fale Raúl Reis:

"Exmo. Senhor Richard Gere,
Há muitos anos que estou para lhe escrever esta carta, mas cada vez que a releio penso que não vale a pena, que se calhar estou enganado e que, provavelmente, o senhor nunca a vai ler. Desculpe começar de forma tão abrupta mas há já muitos anos que tenho vontade de lhe dizer que o detesto. Detesto-o porque já gostei de si, detesto-o porque há demasiada gente a gostar de si e porque acho que o senhor fez muito poucos filmes que se aproveitem. Permita-me dizer-lhe com toda a frontalidade, que o senhor está no mesmo panteão que um tal Kevin Costner, com direito a estátua e tudo. O panteão dos actores mais pirosos e insuportáveis. Um dos principais problemas que tenho consigo, senhor Gere, é que – em tempos – até me agradou. Eu vi “An Officer and a Gentleman” antes de “American Gigolo” e gostei de ambos. Na altura queria ser como o senhor. Gigolo entenda-se, que soldado nunca foi coisa para a qual eu me sentisse virado. Admirei o seu porte esbelto, a sua atitude masculina e o ar permanentemente aborrecido. Nessa altura, Simon LeBon dos Duran Duran fazia poses com a mesma expressão de estar a apanhar seca e gostava. Eu também gostava. O facto de o senhor não mudar com a passagem dos anos foi o que me incomodou. Eu sei que a sua bela cabeleira foi-se tornando grisalha, mas a expressão facial manteve-se, oscilando entre sério, aborrecido ou aborrecido com um sorriso (no caso em que alguma mulher cruzasse o caminho da sua personagem). Acho que esse sorriso foi melhor imortalizado por Truffaut, mas há registos dele em várias cenas de “Pretty Woman”. A partir daí foi sempre a descer, senhor Gere. Tive de o aturar em vários filmes que não aconselho nem a um ceguinho. Tive de aturar “First Knight” em que nunca me ri tanto a ver o bravo Lancelot! E tive de levar a minha namorada a ver o xaroposo “Autumn in New York” que me tirou a vontade de regressar à mais fabulosa cidade do mundo durante anos. Ela até gostou. Chorou e no fim tive de ser eu a consolá-la. Tive mais do que uma namorada a gostar de si. Por isso é que essas namoradas não duraram muito. Elas diziam que o senhor era sexy e bonito. E gostavam do seu cabelo cada vez mais esbranquiçado, até que ficou branco mesmo. A fase mais difícil foi quando o senhor era grisalho. O meu cabelo começou há uns anos a ter umas brancas e cada vez que eu falava nisso às minhas cabelereiras elas diziam-me que era muito sensual, lembrando: “veja o Richard Gere...”. E porque é que só agora lhe estou a escrever esta carta? Olhe, por duas razões: a primeira é porque o senhor se passou com o filme “Nights in Rodanthe”. Nunca pensei que fosse capaz de fazer um filme ainda mais xaroposo que “Dr T and the Women”, mas enganei-me. Este é mesmo insuportável. O meu elevado colesterol não me permite ver filmes tão gordurosos como este. Felizmente que tinha tomado o meu Simvastatin enquanto comia um carpaccio esta tarde, senão as minhas artérias podiam ter-se bloqueado definitivamente. A segunda razão – e esta é mesmo uma questão existencial para mim – é que em “Nights in Rodanthe” o senhor se passeia num carro igual ao meu! Há aqui um problema de “casting” senhor Gere! Nem o senhor nem a sua personagem deviam sentar-se num automóvel com tantas e belas tradições. E isso nem eu nem o senhor Tata lhe perdoaremos. Atentamente, Raúl Reis"

in Cine Cartaz, crítica ao filme O Sorriso das Estrelas. Por Raúl Reis.

e imundo

Lágrimas nos olhos
Beatas no chão
Pés no banco da frente
Rapariga misteriosa com o olhar fixamente fixado naquele ponto volátil

Abandonou-me
Foi-se do mesmo sítio
onde eu inutilmente permaneci

Passa tudo por mim
luz, gente, cor

caos

Mas isto
isto
fica

Isto fica

Este lugar pérfido
Este vazio repleto

imundo

Imundo de gente
Imundo de cor
Imundo de caos

imundo de puro!
de raiva
de fúrias
de cúmulo

imundo de incerteza

Incertezas

vazio...

vazio na mente
vazio no corpo

vazio imundo!

Beira Mar

foto: Praia da Adraga



Muitas vezes na minha curta vida refugiei o meu olhar no mar, onde encontrei calmia e força. Por vezes parecia até fazer parte dele. Ficava ali na praia, no pontão, na rocha, no cimo de um precipício, a olhar, a ouvir, a ver, a escutar, a cheirar, a provar, o azul, a maresia, as aves, as ondas... e pensava, orava, lembrava, chorava, ria.


E ali ficava horas. E depois ia-me embora com desejo de ali voltar.




Conheci uma música muito bonita de Gilberto Gil, que fala da sua relação com o mar e a Bahia. Embora nunca tenha ido ao Brasil, encontro nas suas palavras e música a minha nostalgia e melancolia que apenas conhecia quando estava perto do mar, na praia da Adraga ou no pontão do Estoril.




Se encontrarem a música oiçam-na. Vale a pena.


Aqui deixo-vos o poema.


Na terra em que o mar não bate
Não bate o meu coração
O mar onde o céu flutua
Onde morre o sol e a lua
E acaba o caminho do chão

Nasci numa onda verde
Na espuma me batizei
Vim trazido numa rede
Na areia me enterrarei
Na areia me enterrarei

Ou então nasci na palma
Palha da palma no chão
Tenho a alma de água clara
Meu braço espalhado em praia
Meu braço espalhado em praia
E o mar na palma da mão

No cais, na beira do cais
Senti o meu primeiro amor
E num cais que era só um cais
Somente mar ao redor
Somente mar ao redor

Mas o mar não é todo mar
Mar que em todo mundo exista
O melhor, é o mar do mundo
De um certo ponto de vista
De onde só se avista o mar

A ilha de Itaparica
A Bahia é que é o cais
A praia, a beira, a espuma
E a Bahia só tem uma
Costa, clara, litoral
Costa, clara, litoral

É por isso que o azul
Cor de minha devoção
Não qualquer azul, azul
De qualquer céu, qualquer dia
O azul de qualquer poesia
De samba tirado em vão

É o azul que agente fita
No azul do mar da Bahia
É a cor que lá principia
E que habita em meu coração
E que habita em meu coração


Gilberto Gil

Serviço MEO

Creio que para regressar a este espaço de erudição, diversão e muita ironia, nada melhor do que uma boa reclamação.

Esta reclamação foi feita por uma mulher, de meia-idade diria mesmo, que se encontra neste momento num período MEOtico da sua vida.

Ora confiram:

Ando pi-ursa, como não poderia deixar de ser, com as telecomunicações em Portugal, vulgo PT.

Acho que as minhas desventuras dariam até para escrever um livro: "Os Tratados das PeTas", ou algo assim no género...

Resumindo: ando há anos com problemas na linha, ou seja a rede cobre está obsoleta e completamente nas ultimas. No entanto, vai dando aos sugadores/aspiradores da PT, para turbo-aspirarem os nossos magros salários, com pesadas mensalidades, cuja relação preço/qualidade é no mínimo hilariante se não doesse tanto no sítio da carteira.

Também eu me envolvi, ou fui envolvida, no projecto MEO que cá em casa já tem o slogan: "Oh MEO... o que tu queres sei eu!!!!"

Desde a passada semana que me instalaram todo o equipamento, incluindo routers, para 2 desktops, wireless para portátil e serviço TV HD... lol! Só imagem de fachada... o pior são as infraestruturas, do tempo da pedra lascada!Comparando aos conteúdos da TVcabo (satélite), devo afirmar que estou a receber os mesmos numa espécie de "TVCabo reloaded" ou produtos em 2ª mão.Outra, apesar de o técnico ter afirmado que disporia de todos os canais descodificados até 6 de Abril, o que é facto é que só vemos lixo e nada de canais cinema como tinha anteriormente, porque esses só serão disponibilizados com pagamento extra. Tudo bem, compreende-se, mas será que não podemos ao menos espreitar?? NÃO, só depois de contrato assinado e pedido activado!

Relativamente à Internet propriamente dita, nem sei o que dizer... se tinha uma net instável e com quedas frequentes, a 6.2 MB agora tenho uma "lesma" com artrite reumatóide de último grau... entre os 112 e os 130 Kbps, valores estes com e sem TV a funcionar em simultâneo com internet! Só para rir: descarregar um mail com 10,8 MB foi coisa para esperar entre as 2.25 a.m. até às 2.40 a.m.!!! E para levar apenas este tempo... tive de desligar a TV e apenas ter um PC a funcionar... LOL! Não é hilariante (se não fosse sério!)?!

Para cúmulo ao fim de 48.00h de serviço MEO eu informo, declino, imploro, rezo, para que me tirem tal praga de casa... em vão! Ameaçam-me que a partir do momento que foi instalado o serviço fico "fidelizada" (12 meses) e que terei de expor por escrito o(s) motivo(s), após o que será devidamente analisado... não é uma anedota mesmo???Ainda para mais quando não assinei nenhum contrato, tendo apenas migrado do sapo, directo para o MEO! Antes dessa migração, fiz questão de salientar o estado da minha linha, telefonando para o apoio de clientes MEO, tendo recebido a resposta que só migraria, caso as condições técnicas da linha o permitissem a 100%! Tal não aconteceu como é evidente.

Ameacei de volta com advogado e reclamação para a ANACOM e já cheia de tudo isto, comprei um modem à NETCabo, que exijo (já não peço!) poder instalar na minha linha telefónica logo que ele chegue, mesmo que o equipamento MEO se encontre por cá! Juro que eu própria retiro tudo das fichas e tomadas, embalo e mando para "o raio que os parta a todos"!

Hoje, passei a tarde inteira ao telefone, dividida entre NetCabo, MEO, PT comunicações. Acho que já estou em vias de ganhar uma gastrite e já não respondo por mim. No meio de tudo isto não posso também ter acesso aos serviços "Cabo: net+tv+voz" porque um estuporado vizinho nas redondezas, usufruindo dos ditos, não permite a passagem do cabo, para fornecimento desses serviços aos restantes moradores próximos. Não é mesmo uma anedota de país??? No entanto, pagamos mensalmente uma taxa/percentagem dos valores cobrados pela PT, para "direitos de passagem", o que me leva a perguntar quais direitos de passagem??? E já agora quem defende os nossos direitos como consumidores??? A DECO??? LOL!

Com tudo de bom que acontece neste oásis do Cretáceo Político Português, como é que evitamos padecer de males nunca antes sonhados...?? Só migrando de vez, para fora daqui, enquanto a saúde mental e física o permitir!!! Vontade não falta, arrependimentos... muitos! Portugal além de intragável está intolerável a todos os níveis.

A partir de hoje assumi que vou ser mesmo "besta", com todas as letrinhas, para esta tiozada toda.

Fiquem bem e obrigado pelo tempo que dispensaram... ao menos riam-se com esta trágico-comédia minha! :)



Para quem se interessou de sobremaneira, pode consultar o maravilhoso site que é o Livro Amarelo na Net

A Verdade por detrás da Realidade

O Mito da Menstruação


Irrompe com violência pela porta do seu palácio afora e, sentindo a doce suavidade do delicado ar primaveril do mediterrâneo, grita a dor da sua alma num grito inaudível. Lá dentro, no seu leito, jazia o seu marido em cima de sua criada numa posição outrora lívida de prazer sexual dionisíaco mas agora assexuada.


Efigénia era casada com Alcibíades, rei da ilha de Salamina. Era a primavera do ano de 1930 a.C. O amor de Efigénia por Alcibíades ultrapassava o limite do amor sentido por um humano. De tal maneira incomensurável era o seu amor, que a própria Cípris não conseguia compreender a proveniência desta quantidade de energia total, pura e sincera que nem ela, a deusa do amor, alguma vez pensara existir. A perplexidade assolou o âmago de Cípris. Não podia permitir que uma humana tornasse obsoleto o sentimento que ela criara. A deusa pede a Dióniso, o deus dos prazeres da vida, que enfeitice a criada de Efigénia com um ardente desejo carnal por Alcibíades. Sem escolha possível, a criada enfeitiçada seduz Alcibíades que não resiste à sedução – uma fraqueza que é inerente aos homens.


Uma tarde Efigénia regressava de Atenas após uma visita ao templo de Athena Niké. Fora oferecer sacrifícios à deusa em agradecimento à protecção de seu marido durante a guerra. Já avistava o palácio. Caminhava suavemente sobre as pedras mornas do caminho e apanhava algumas flores vermelhas aqui e acolá para decorar o seu leito numa noite que ela seria devota anfitriã de seu marido que acabava de retornar da guerra. Ouvia lá de baixo o som das ondas do mar a deitarem-se sobre as rochas. Não via o momento de estar nos braços de Alcibíades. Entra no palácio e vai directamente para a sua câmara.


Petrificada. Efigénia estava de pé. Foram dois segundos de vazio psicológico, dois segundos de uma profunda imersão eterna em si própria. Os dois segundos foram mais longos do que toda a sua vida e o nada foi o sentimento absoluto desta pequena eternidade, o nada que destruiu completamente qualquer capacidade racional.


Morte. Assassínio. Dor. Sangue. Lágrimas.


Irrompe com violência pela porta do seu palácio afora e, sentindo a doce suavidade do delicado ar primaveril do mediterrâneo, grita a dor de sua alma num grito inaudível. Olha para as suas mãos: sangue… Muito sangue e um punhal. Cai de joelhos na terra áspera, o seu olhar permanece erguido e inerte, preso no azul do céu. Suspende o punhal diante de si e, cortando o ar com vigor, enterra –o em seu ventre. Não sentiu a dor, pois a dor que pulsava na sua alma era maior. Ainda com o olhar no céu, eis que surge Cípris deslumbrante num cavalo branco:

“Maldita sejas tu, mulher entre as mulheres. Foste capaz de atingir aquilo que nem eu julgava possível. Maldita sejas tu por amar demasiado. Este sangue que deitas agora do teu ventre, a partir de agora será para todo o sempre. Todas as tuas semelhantes de todas as gerações vindouras até que a tua raça desapareça da face da terra, sentirá a dor e derramará o sangue como prova de que nada nem ninguém deve afrontar Cípris. Maldita sejas.”

Efigénia sucumbe. No momento em que o seu delicado rosto tocou a terra áspera, todas as mulheres da Terra sentiram uma dor. Todas as mulheres derramaram sangue. A partir de então isto repetiu-se periodicamente em todas elas durante toda a sua vida, nas gerações vindouras idem, como uma marca do ódio de Cípris em todas as mulheres, para toda a eternidade.

Mulholland Drive




Simplesmente GENIAL!

Contém spoilers!


"Todas as interpretações que encontrei de Mulholland Drive (MD) consistem aproximadamente no seguinte: os primeiros 2/3 do filme são o sonho de Betty, alter-ego de Diane moribunda fisica e/ou psicologicamente; o último terço é a Realidade das vidas de Diane e Camilla. Concordo basicamente com a divisão mas não com a interpretação da primeira parte. É preciso ter presente o universo lynchiano: metafórico, onírico, alucinatório, barroco, católico, emocional, povoado de anjos e demónios mais ou menos inconscientes, internos e manipulativos, perversões, culpas, recalcamentos, purgatórios e redenções.Em MD, David Lynch usa, entre muitas outras, 2 "peças" metafóricas: a chave e o cubo, ambos azuis (o azul tem também significado metafórico e emocional ao longo de todo o filme, tal como a sua restante palete de cores): as chaves azuis "são" a MORTE (a morte física no caso da chave real que o assassino contratado usa como sinal; a morte potencial, metafórica ou real, no caso da chave azul estilizada que Camilla acha na mala; esta "morte" pode também ser entendida como a "key" para mudar radicalmente de... Vida, talvez no sentido de mudança fundamental que a carta da Morte encerra no Tarot. Quanto ao cubo, ele tem dois óbvios estados possíveis: fechado é o MISTÉRIO (o profundo mistério do significado da vida, o insondável, o incompreensível); aberto é a REVELAÇÃO. A associação é também óbvia: só a chave da MORTE permite a REVELAÇÃO do MISTÉRIO...Interpretar a primeira parte do filme como um sonho de Diane é dar a esta personagem todo o protagonismo. Camilla ficaria resumida a uma imagem de Diane e todo o filme seria basicamente a história de Diane. Ora em toda a aura de marketing que rodeia o filme bem como no que resulta do seu visionamento linear, transparece a história de duas mulheres, duas faces da mesma moeda, a loura e a morena, siamesas na obscuridade do enredo. Assim e equilibrando a equação, proponho a seguinte interpretação:Destroçada, transtornada e em desespero total, Diane compra o assassinato da sua amada Camilla. O mecanismo demoníaco da morte é accionado através dos seus executores físicos, psicológicos, mentais e surreais (não cabe aqui essa análise). A limo preta desliza de facto, na realidade!, ao longo da tortuosa e sinistra e perigosa estrada das colinas sobranceiras a Hollywood, donde se avista a espaços o Valley (a gigantesca planície de malha urbana e suburbana a que se pode vagamente chamar LA). Esta estrada é de facto perigosa e os acidentes acontecem. O eminente assassinato de Camilla fracassa subita e inesperadamente devido ao tremendo embate do carro de adolescentes em corrida delirante. Ferida, transtornada e em choque, Camilla desce pelos arbustos da encosta e refugia-se numa casa que (aparentemente) a única residente está a abandonar durante algum tempo, como se fosse de viagem. Amnésica e traumatizada em todos os sentidos, Camilla adormece ou alucina. A HISTÓRIA QUE SE SEGUE PODE MUITO BEM SER O SONHO/ALUCINAÇÃO de Camilla. É algo especulativo a partir daqui e até à parte "real" do filme, discernir o que é alucinação e sonho do que é realidade no percurso de Camilla e das outras linhas narrativas que estão em movimento: o realizador, o assassino, etc. Todos os argumentos sobre o enredo de estranhos personagens no suposto sonho à beira do fim de Diane são igualmente válidos para Camilla. Elas eram amantes e colegas, partilharam as vidas, os passados, as histórias, logo as personagens cabem perfeitamnete na alucinação de Camilla. Mas e Betty/Diane? Como se ajusta ela aqui? Na perfeição. Betty é um anjo lynchiano típico, o anjo perfeito da amnésica Rita (Camilla sem identidade). Betty é linda de mais, amiga de mais, amante de mais, maternal de mais para ser outra coisa que não um anjo na lenta recuperação de Camilla. É com o seu anjo da guarda que Camilla vai viver e falar, ser apoiada e receber a energia e iniciativa que não tem. Não é perfeito que a idealização angélica de Camilla seja precisamente a Diane que existe nas profundezas da sua memória, a amante que a amou acima de todas as coisas, a Diane ainda pura e "canadiana" do início do seu relacionamento? Não é perfeito que Camilla "crie" o anjo que a protege da culpa de ter mais ou menos voluntariamente destroçado a sua amada Diane através dos seus outros amores que só conhecemos na parte final? Não é perfeito que assim sendo não haja uma dicotomia entre duas entidades físicas Betty/Rita mas sim uma unidade: Camilla amnésica e seu anjo da guarda Betty são/estão na mesma pessoa.Esta interpretação permite "dar realidade" a muitos mais acontecimentos, ou, pelo menos, a deixar ao critério pessoal essa assumpção: a rede assassina anda de facto preocupada com o desaparecimento da marcada para matar; é para o telefone de Diane que é passada palavra de que a rapariga está desaparecida, mas ninguém atende pois Diane já se suicidou pensando que Camilla morreu pois recebeu erradamente a chave-sinal (isto é shakesperiano); é, no mínimo, genial que a alma liberta da suicidada Diane voe para ser o anjo de Camilla; se é Camilla que sonha o episódio da escolha da protagonista do filme de Adam é natural que nome e foto não correspondam pois Camilla amnésica não sabe quem é Camilla; além disso, supondo que as histórias envolvendo Adam são sonhadas (transfiguradas pelo sonho), quem melhor do que a noiva de Adam para ter tido conhecimento do que se passou com o lançamento do filme e a sua vida pessoal; quando das profundezas da memória, Camilla verbaliza o primeiro nome ele é "Diane" e orientada pelo seu anjo, visita (de facto?) a casa de Diane onde se depara com o cadáver que se confunde com um cadáver dela própria (de novo o jogo de espelhos); ainda orientada pelo seu anjo, temendo ainda mais pela vida ao ver-se associada aquele cadáver (e o mais que na sua memória profunda lhe lembrasse que tinha sido vítima de uma tentativa de assassinato), Camilla disfarça-se de... Diane (Genial!). Mas Camilla continua amnésica e sem as ferramentas suficientes para entender o sentido de tudo isto. É então que é acometida por uma necessidade vital de ir ao Silêncio de neon azul. Mulher e anjo correm (na realidade?) para este estranho teatro onde se encena a Grande Revelação em fumos azuis. "Não há banda" mas sim uma fita gravada ao som da qual os actores (todos nós) "sincronizam"; não há nada de novo, nem lugar ao improviso, apenas ajuste efémero ao som há muito gravado, até a profundíssima paixão da Llorona pré-existia e pos-existe a ela, desfalecida, e no fim, apenas o vácuo do silêncio. Da lição de Silêncio, Camilla e Anjo recebem metaforicamente o cubo azul de que necessita(m) para a revelação pessoal. Correm para casa (e é aqui que encontro a principal "prova" de que este sonho é de Camilla, pois imediatamente antes da revelação, ou seja, a abertura do cubo com a chave respectiva, o Anjo desaparece (desvanece-se?). Já não tem cabimento na verdade de Camilla. É Camilla que abre o Cubo. Para onde foi Camilla?"

amerika [ccarreira@gmail.com]


P.S.: Originalmente publicado como comentário à critica do filme Mulholand Drive no blog: http://mulholland-drive.blog-city.com

Saltaram, Saltei, Saltaste

Saltaram eles
Saltei também e senti-me a cair no vazio…
Sempre a cair…

Cair aos poucos…
Sempre aos poucos, fui perdendo o corpo
Não sentia o corpo…
Numa não-existência agonizante

Mas, sempre a cair…
Sempre…

A queda tornou-se rotina
Hábito
Como não ter corpo se tornou também um hábito…

De repente sinto um golpe forte sem dor…
Golpe no que me faz escrever…
Golpe no que me faz pensar…
Golpe na mente…

E aí senti…
Sei que senti.
Juro que senti.

Senti-te…
Dentro de mim a aconchegar-te
Dentro da minha mente
Dentro da minha existência…
E aí!

Aí, saltaste tu também

O Manifesto



P.S.: Clique aqui para ler o Manifesto de maneira mais legível

Intercâmbio

Como podem já ter constatado, contamos com mais um Capo nesta vasta famiglia que é o nosso beloved Ideias.
Pois é meus caros leitores, demos inicio a um duradouro (esperemos) intercâmbio entre o nosso maravilhoso blog e o também maravilhoso (não tanto como o nosso, diga-se) blog do Sr. César Augusto.

Portanto Avé! E esperemos que apreciem bastante tanto os nossos bons posts como os posts (não tão bons) do Grande (médio, vá) Imperador.

P.S.: Abusei um pouco do uso do meu amado parêntesis e dos meus queridíssimos estrangeirismos, mas isto faz parte da máscara de erudição que pretendo manter até morrer, portanto get used to it.

Reflexão sobre Warhol


Warhol trouxe para a arte o que já há muito tempo empestava o mundo moderno: o consumismo e o continuo desaparecimento da identidade de cada um.
Warhol vê a sociedade capitalista como um meio para atingir a riqueza e a fama, não fosse a sua mais célebre frase “No futuro toda a gente terá os seus quinze minutos de fama”.
Como é evidente, não podemos censurar este genial abutre da sociedade moderna, ele simplesmente concedeu à sociedade o que esta já há muito lhe implorava, e diga-se francamente, fê-lo com brilhantismo, glamour e sempre com carradas de hedonismo à mistura para criar um cocktail bem saboroso para todos os seus seguidores.
Nesta Judy Garland serigrafada de 1979, Warhol fez basicamente o mesmo que já tinha feito com Marilyn Monroe, pegou numa foto já feita, alterou-lhe as cores completamente, criando um efeito enriquecedor da imagem, e produziu a serigrafia em série, ou seja, fez o que sempre foi a sua ambição, iconizar figuras por si só famosas e adorá-las como deuses.



Welcome to

The Factory


Warhol's Most Hedonist Creation




Recomendação


Boas caros blogospectadores! Eis a oportunidade das vossas vidas de verem obras do Louvre do neoclassicismo francês do séc.XVIII e isto tudo sem sair de PORTUGAL! É verdade. Parece que estão a fazer umas intervenções nas instalações do Louvre e emprestaram estas obras para exposição na Fundação Calouste Gulbenkian. Esta exposição, segundo o que li, vai estar apenas em quatro países, a saber, EUA, Espanha, Japão e, claro está, Portugal.

A exposição estará patente nas instalações da Gulbenkian a partir de 17 de Fevereiro.


às vezes tenho vontade de beber o céu.

Ave Anonymus!

(um homem de pé com uma bata preta e com o pertencente capuz caído para trás. A acção passa-se numa cave escura, iluminada apenas por velas suspensas nas paredes de pedra áspera e marmórea; localiza-se ao centro uma velha mesa circular de mogno e varias cadeiras todas elas semelhantes em antiguidade e em forma (braços espessos que pareciam ter sido martirizados várias vezes aproximadamente no lugar do pulso). Vários sujeitos próximos da mesa, todos eles encapuçados, com um ar notório de transe profundo - os seus olhos vidrados, a sua cara pálida, a sua boca seca e mirrada - sibilando qualquer coisa imperceptível ao ouvido humano)

-Ave Anonymous!
Ave! (Chorus)



(após a saudação todos se sentam ao mesmo tempo mantendo-se apenas o primeiro homem de pé)

-Eis irmãos, aqui, um atentado à nossa malograda fé, um acto hediondo, que de tanta vergonha, nauseabunda crueldade, doentia e estúpida ousadia nunca antes havia sido cometido:

http://meninalimao.blogspot.com/2008/01/reposioupdate.html

(levantam-se todos)

-Ideias a Preto e Branco... Bendita seja a tua pálida ironia. Ámen (Chorus)

Homenagem aos Jornais Diários Gratuitos



"Globalmente falando, creio que foi dado demasiado Destak às infiltrações no Metro durante a última Meia-Hora."



A Minha Primeira Gramática




Baileys

Meto a chave à porta e rodo a maçaneta.
Corro para dentro e vejo que não está lá ninguém.
Subo dois lances de escadas seguidas e detenho-me perto da janela.
Vejo as cortinas esvoaçantes que voam a sair pela varanda como pombas brancas a tentar fugir de algo mais belo.
Lá estavas tu… nua, enrolada apenas num roupão de banho.

Foi mágico ver-te assim, era como se fosse irreal, surreal, ilusório…

A varanda era daquelas varandas grandes, de pedra, como existe em hotéis antigos daqueles estilo Paris, e no entanto estava ali… perto de mim, mesmo à frente dos meus olhos, contigo em cima.

Tu estavas a olhar para baixo com um copo de Baileys na mão, como se estivesses à espera de alguém (não me ouviste entrar.)

Eu continuava a olhar para ti maravilhado…
Como era possível que estivesses ali assim?!
Desgraçada!
Sem a mínima ideia do que se passava…
Bolas…

Começava a sentir aquele fogo interior a picar de dentro para fora. As minhas mãos começavam a tremer com medo do que estava para vir, mas tinha de ser feito.
Eu sabia que tinha de ser feito

Respirei fundo e sustive a respiração.
Avancei com passadas rápidas e decididas para a varanda.
Agarrei-te pelo cabelos e o roupão caiu, agarrei-te pelo pescoço e tu gritaste, empurrei-te para a morte e tu nada disseste.

Só me lembro da tua cara a virar-se para mim com alegria e depois com surpresa e por fim com medo.
Só me lembro da tua cara lívida quando jazias estatelada lá em baixo.
Só me lembro disso e de chorar.
“Porquê”.“Porque é que fizeste isto?”

Ora, é simples…

Quem é que te mandou tocar no meu Baileys?

V

"Voilà! In view, a humble vaudevillian veteran, cast vicariously as both victim and villain by the vicissitudes of Fate. This visage, no mere veneer of vanity, is a vestige of the vox populi, now vacant, vanished. However, this valorous visitation of a by-gone vexation, stands vivified and has vowed to vanquish these venal and virulent vermin van-guarding vice and vouchsafing the violently vicious and voracious violation of volition."

in "V for Vendetta"