clarividência

Contemplando a tua beleza sigo o meu caminho rumo à perdição.

E no entanto é-me dificil controlar

controlar a beleza

controlar o caminho

controlar-me a mim e a ti

é impossível!


E enfim, sigo descontrolado o caminho rumo à perdição clarividência

onde ao fundo do túnel estarás tu, bela, para me dizer


“chegaste por fim”

Porque Hoje é Sábado... Vinícios de Moraes

"O dia da Criação

Macho e fêmea os criou.

Gênese, 1, 27
I

Hoje é sábado, amanhã é domingo
A vida vem em ondas, como o mar
Os bondes andam em cima dos trilhos
E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na cruz para nos salvar.


Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para passar
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo
Mas por via das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo mal.


Hoje é sábado, amanhã é domingo
Amanhã não gosta de ver ninguém bem
Hoje é que é o dia do presente
O dia é sábado

Impossível fugir a essa dura realidade
Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas
Todos os maridos estão funcionando regularmente
Todas as mulheres estão atentas
Porque hoje é sábado.


II
Neste momento há um casamento
Porque hoje é sábado
Hoje há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado
Há um rico que se mata
Porque hoje é sábado
Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado
Há um espetáculo de gala
Porque hoje é sábado
Há uma mulher que apanha e cala
Porque hoje é sábado
Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado
Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado
Há um sedutor que tomba morto
Porque hoje é sábado
Há um grande espírito-de-porco
Porque hoje é sábado
Há uma mulher que vira homem
Porque hoje é sábado
Há criançinhas que não comem
Porque hoje é sábado
Há um piquenique de políticos
Porque hoje é sábado
Há um grande acréscimo de sífilis
Porque hoje é sábado
Há um ariano e uma mulata
Porque hoje é sábado
Há uma tensão inusitada
Porque hoje é sábado
Há adolescências seminuas
Porque hoje é sábado
Há um vampiro pelas ruas
Porque hoje é sábado
Há um grande aumento no consumo
Porque hoje é sábado
Há um noivo louco de ciúmes
Porque hoje é sábado
Há um garden-party na cadeia
Porque hoje é sábado
Há uma impassível lua cheia
Porque hoje é sábado
Há damas de todas as classes
Porque hoje é sábado
Umas difíceis, outras fáceis
Porque hoje é sábado
Há um beber e um dar sem conta
Porque hoje é sábado
Há uma infeliz que vai de tonta
Porque hoje é sábado
Há um padre passeando à paisana
Porque hoje é sábado
Há um frenesi de dar banana
Porque hoje é sábado
Há a sensação angustiante
Porque hoje é sábado
De uma mulher dentro de um homem
Porque hoje é sábado
Há uma comemoração fantástica
Porque hoje é sábado
Da primeira cirurgia plástica
Porque hoje é sábado
E dando os trâmites por findos
Porque hoje é sábado
Há a perspectiva do domingo
Porque hoje é sábado


III
Por todas essas razões deverias ter sido riscado do Livro das Origens,
ó Sexto Dia da Criação.
De fato, depois da Ouverture do Fiat e da divisão de luzes e trevas
E depois, da separação das águas, e depois, da fecundação da terra
E depois, da gênese dos peixes e das aves e dos animais da terra
Melhor fora que o Senhor das Esferas tivesse descansado.
Na verdade, o homem não era necessário
Nem tu, mulher, ser vegetal, dona do abismo, que queres como
as plantas, imovelmente e nunca saciada
Tu que carregas no meio de ti o vórtice supremo da paixão.
Mal procedeu o Senhor em não descansar durante os dois últimos dias
Trinta séculos lutou a humanidade pela semana inglesa
Descansasse o Senhor e simplesmente não existiríamos
Seríamos talvez pólos infinitamente pequenos de partículas cósmicas
em queda invisível na
terra.
Não viveríamos da degola dos animais e da asfixia dos peixes
Não seríamos paridos em dor nem suaríamos o pão nosso de cada dia
Não sofreríamos males de amor nem desejaríamos a mulher do próximo
Não teríamos escola, serviço militar, casamento civil, imposto sobre a renda
e missa de
sétimo dia.
Seria a indizível beleza e harmonia do plano verde das terras e das
águas em núpcias
A paz e o poder maior das plantas e dos astros em colóquio
A pureza maior do instinto dos peixes, das aves e dos animais em [cópula.
Ao revés, precisamos ser lógicos, freqüentemente dogmáticos
Precisamos encarar o problema das colocações morais e estéticas
Ser sociais, cultivar hábitos, rir sem vontade e até praticar amor sem vontade
Tudo isso porque o Senhor cismou em não descansar no Sexto Dia e [sim no Sétimo
E para não ficar com as vastas mãos abanando
Resolveu fazer o homem à sua imagem e semelhança
Possivelmente, isto é, muito provavelmente
Porque era sábado."
Vinícius de Moraes


Logo após, qual Brutus, o Homem espeta uma faca nas costas de Deus. Com isto vai-se suicidando em suaves prestações. Mas falemos de outras coisas! Afinal hoje é sábado!
Mas amanhã é domingo...

Madrugadas.

A escrever me confesso sedento de braços que me apertem.


Não de palavras que acariciem

Não de olhos que se afectem em brilho e sal

Só preciso de braços

Fortes, mas ternos.


A escrever me confesso falso feliz

A escrever peço perdão por escrever

A escrever me encontro no abstracto

E abstraio-me do acto de escrever

Para deixar de ser quem escreve

E ser quem é escrito.



Menti.

Afinal preciso de palavras

Não há braços

Nem fortes

Nem ternos

Mas há palavras!

Fortes

Ternas

Escritas

Vivas!



“Palavras leva-as o Vento”
...

E desse modo vou com elas!

Voo!

E assim sobrevivo...


Que triste ser

Um sedentário ser

Que sonha voar

Para fugir desta terra onde não encontra braços...



Sedentário ser que sonha ser nómada

Nómada!

Vida!

Gente!

Não sedentário!

Sedentário…

Morte…

Vazio …



E assim me perco na inutilidade das palavras

Que afinal ajudam a fazer voar…

O tempo.



Dedico este texto à única pessoa que me deve compreender.

Dedicado a mim.

Caim


Após todo o alarido mediático lançado à volta de Caim do Nobel José Saramago decidi lançar mãos à obra e ler a dita.

Depois do enorme conflito entre Saramago e Igreja (com direito inclusive a debate em directo na televisão nacional) devo dizer que o livro não me chocou minimamente e que me parece que toda a atenção só fez beneficiar o autor e a editora.


Escrito num tom alegre, sardónico e gozão (longe das fatigantes descrições de outras obras) Caim consegue ser um livro que agrada a um leitor descomprometido e consciente de que está a pegar numa obra de ficção e que esta reflectirá quando muito a opinião do escritor.

A maioria dos leitores comprou o livro porquê?

Para ver se Saramago chamou realmente filho-da-puta ao Senhor.


Eu poupo-vos o trabalho: Chamou isso e muito mais.

Saramago, com a sua interpretação “linear” da Bíblia apenas retrata exactamente o que está nas entrelinhas.


Deus é vingativo.

Deus é rancoroso.

Deus é bastante sacaninha.

Deus mata crianças para castigar os seus pais por não terem fé suficiente.

Deus, desvaloriza um seu fiel porque um outro lhe trouxe uma oferenda melhor.


Saramago põe tudo em pratos limpos e reforça a sua descrença para com quem quer que esteja lá em cima. Ou seja, se realmente está lá alguém, esse alguém é mau como as cobras.

No meio disto tudo, temos ainda o prazer de ver o nobre Caim a viajar por diferentes presentes, podendo constatar com os seus próprios olhos, toda a “justiça” divina que Deus vai fazendo pelo mundo fora.


No final (e o final chega depressa) creio que apenas podemos constatar que Caim era de facto o mais fiel servidor do Senhor.

Afinal, que sacrifício mais alto existe que um sacrifício humano?!

A Mulher retratada ao longo de 500 anos de Pintura... e Bach!

Entre Gelo e o Apartheid não vai uma grande distância...!

Entre piruetas e rodopios, patinava eu num cúbiculo, a que alguns chamam 'pista de gelo', quando, de repente, se ouve uma voz horrivelmente anasalada: "Pede-se, por favor, aos patinadores de cor castanha que abandonem a pista de gelo!". Fui de imediato esclarecer o equívoco que me assombrava a mente. Estaremos nós a reviver o Apartheid? A senhora riu-se de imediato percebendo a causa da minha (suposta) agonia. Cada patinador tinha um cartão com uma cor... Esqueceram-se de me dar o cartão,  como poderia eu saber?!
                                   
                                            

Num tempo em que a futilidade roça o absurdo...

Pensamentos do Dia:


"Sejamos simples e calmos, como os regatos e as árvores,

E Deus amar-nos-á fazendo de nós

Belos como as árvores e os regatos,

E dar-nos-á verdor na sua primavera,

E um rio aonde ir ter quando acabemos!..."

by Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos"

Este lindo poema, que aqui vai a metade, fez-me lembrar uma mensagem intemporal e, até, bastante actual de Jesus: " Por isso, eu vos digo: não vivais preocupados com o que comer ou beber, quanto à vossa vida; nem com o que vestir, quanto ao vosso corpo. Afinal, a vida não é mais que o alimento, e o corpo, mais que a roupa? Olhai os pássaros do céu: não semeiam, não colhem, nem guardam em celeiros. No entanto, o vosso Pai celeste os alimenta. Será que vós não valeis mais do que eles? Quem de vós pode, com sua preocupação, acrescentar um só minuto à duração de sua vida? E por que ficar tão preocupados com a roupa? Olhai como crescem os lírios do campo. Não trabalham, nem fiam. No entanto, eu vos digo, nem Salomão, em toda a sua glória, jamais se vestiu como um só dentre eles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã alimenta o forno, não fará ele muito mais por vós, gente fraca de fé? Portanto, não vivais preocupados, dizendo: Que vamos comer? Que vamos beber? Como vamos nos vestir? Os pagãos é que vivem procurando todas essas coisas. Vosso Pai que está nos céus sabe que precisais de tudo isso. Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo. Portanto, não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã terá suas preocupações! A cada dia bastam seus males" by Jesus in Mateus 6:25-34.

Num tempo em que a futilidade roça o absurdo, e para mal de muitos e bem de outros, a todos alcança, é tempo pois de parar, respirar fundo e agradecer por isso, confiar no Verdadeiro Guardador de Rebanhos."O Senhor é o meu pastor e nada me faltará. Ele me faz repousar em pastos verdejantes. Leva-me para junto das águas de descanso e refrigera-me a alma." by David in Salmo 23:1-3

Por isto, façamos o favor de ser "simples e calmos, como os regatos e as árvores, e Deus amar-nos-á fazendo de nós belos como as árvores e os regatos, e dar-nos-á verdor na sua primavera, e um rio aonde ir ter quando acabemos!” E pronto, este foi o meu Pensamento do Dia mais teológico que até agora fiz em toda a minha vida “Bloguiana”!

devaneio nº 'já perdi a conta'

Uma garrafa na mesa
Destruição completa!
Beatas apagadas e vazias.

E tu?

Foges e escapas-me
És tu própria e evaporas-te
Mas porquê?

porque sim – respondes
não te estou destinada!

E eu?!
Eu fico impávido
E digo

sim, não te mereço

mereces…
porém,
não consegues.