Ensaio Sobre a Complexidade de Ser Revisor

Após diversas viagens de elevado grau de entretenimento, reparamos numa personagem que nos acompanha nas viagens de comboio e que, na maior parte das vezes, nos passa despercebida – o Sr. Revisor, ou para os amigos, o Sr. Pica.

Ao longo dos tempos, fomos reparando na personalidade de cada revisor, que se reflectia no seu método de interacção com os passageiros.
Após longa e minuciosa reflexão, achámos possível traçar os diversos perfis desta personagem que é o Sr. Pica.


Sr. Isidro, o Profissional e Politicamente Correcto – Também chamados Pica-Robô, são conhecidos por andar durante vinte e quatro horas com o seu sorriso amarelo e, igualmente conhecidos, pelo seu discurso pseudo-eloquente e formal, não esquecendo a voz monocórdica. Normalmente estes revisores têm idades compreendidas entre os 50 e os 65 anos (idade da reforma).
– B’ noite, o seu “titele” de transporte, s’ achavôr.

Depois de consultar um especialista em psicopatologia, de nome, Simão Miranda (sacana teve um 20 a Psicologia -> by Rubeus, o Gallo), especulou-se sobre o passado do ”paciente”.
“Ora, pois bem, portanto, creio que o paciente padece de uma grave…hum...coisa proveniente do seu historial esclavagista de trabalho árduo. Portanto, mecanizou o seu método de trabalho após anos e anos de obliteração, adquirindo, até, tiques tais como… aqueles.”


Sr. Olegário, o Mete-Conversa – Normalmente conhecidos pela sua excessiva simpatia e pelas suas conversas sobre o tempo, fazem o possível para meter conversa com tudo e com todos, até mesmo com o cão que nem lá devia estar. A sua faixa etária é compreendida entre os 30 e os 40 anos.


Sr. Peixoto, o Calão – Simplesmente o que o cognome indica. São caracterizados por se sentarem e não cumprirem o seu dever. (Agora estão lixados porque há câmaras de vigilância que controlam tais atitudes). A sua faixa etária não exerce influência sobre a preguiça.


O Mário, o Pintas – Metem conversa com todos os indivíduos, de preferência, os do sexo feminino. Fisicamente são aquilo a que a minha avó (do Rubeus, o Gallo) chama chupadinhos, ou seja, magricelas. Em termos de gadelha ou são carecas, ou usam cabelos espetados lambidos de gel ou uma farta cabeleira atada num rabo-de-cavalo. Tecem comentários menos próprios (piropos), bocas e têm a mania que têm piada.

Situação: Ana Rita – nome fictício – cantava com a sua voz melo(dio)sa fazendo exacerbar até às lágrimas quem a ouvisse. Eis senão quando, lá ao longe, as portas daquela que era a nossa magnífica carruagem fazem pff e se abrem. Lá vinha ele. Logo adivinhei naquele olhar a sua vontade perversa de mandar um piropo. Todo aquele cabelo oleoso e toda aquela caspa presa entre os fios de cabelo, aquela uni sobrancelha, aquele bigode mal semeado…Era Mário. O Mário.
Abstraída daquele mundo que é a carruagem, Ana Rita continuava a cantar e a cantar continuava, não percebendo o que se avizinhava. Eis que, do nada, ouve-se uma voz gingona que trovou assim:
“Oh fofa, gostas de cántar? Então vai aprender! EhEh! Mas gostas dessa cántiga? Então não a estragues. EhEh!"

O mundo de Ana Rita desmoronou-se naquele exacto momento. Ana Rita fica boquiaberta apenas com coragem suficiente para mostrar o passe. Fim de Situação

Continua…
Na próxima edição, rubrica de José Hermano Saraiva.


By Oamis, o Faraó e Rubeus, o Gallo

6 pseudo-comentários:

Sofia disse...

Bolas, isto está bem feito!
E mais não digo.

Niusha disse...

Assino por baixo do comment da Sofia.:P

..carlix.. disse...

ainda nao percebi a associaçao dos nomes às caracteristicas!

Teresa Raquel disse...

Fizeram um estudo tão apurado, digamos que até com algumas reproduções destes mesmos em plena viagem realiadas por mim pelo ruben..a rita e o simao como passageiros...lol

Realmente até dá gosto vir ao vosso blog! É BEM!

sinceros comprimentos

Gaius disse...

Sim senhores! Gosto bastante!

Anónimo disse...

intiresno muito, obrigado